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Médico do HEG será voluntário durante as Olimpíadas Rio 2016 - 29/07/2016

Confira a entrevista completa com o profissional                                                                                         



O Brasil sediará as Olimpíadas 2016, no Rio de Janeiro e além dos atletas, protagonistas que disputarão medalhas e lutarão para conquistar quebras de recorde, existem também muitos voluntários que estarão dedicando o seu tempo para o sucesso do evento.

É o caso do médico residente de Cirurgia Oncológica do Erasto Gaertner, Dr. Phillipe Abreu. Nascido no interior de Minas Gerais, no município de São João Del Rey, no ano de 1988, ele agora realizará o sonho de participar de uma olimpíada, atuando como médico de campo de jogo e auxiliar no Centro de Telemedicina da Vila Olímpica.

Confira a entrevista completa com o Dr. Phillipe:

Hospital Erasto Gaertner: O que te levou a escolher a Medicina como carreira profissional?

Dr. Phillipe Abreu: Quando eu era criança eu queria ser piloto de avião e a minha cidade natal é bem perto de Barbacena (MG), onde fica a Escola Preparatória de Cadetes do Ar. Eu fiz o processo seletivo, passei nas provas e na hora de fazer o teste físico me falaram que eu não podia ser piloto por usar óculos. Eu só poderia ser mecânico e isso eu não queria, então voltei para casa. Eu tinha um exemplo na família, de uma tia que é ginecologista e um tio que é cirurgião, e via o contato deles com os pacientes, o retorno das pessoas que eles ajudaram. E eu vi que a Medicina era uma oportunidade para ajudar as pessoas, ter o retorno direto e imediato durante o meu cotidiano. Procurei uma carreira que eu pudesse ajudar o próximo.

Hospital Erasto Gaertner: E na área oncológica? O que despertou o seu interesse?

Dr. Phillipe Abreu: Entrei no Hospital há oito anos, como Acadêmico de Medicina, eu estava no segundo ano de faculdade. Estar aqui despertou o meu interesse pela oncologia, os pacientes aqui precisam do auxílio e nos ouvem muito. Eles passam por momentos difíceis, inclusive pelo medo da morte, então na oncologia você consegue auxiliar muito essas pessoas. Como Acadêmico no Erasto Gaertner aprendi que o câncer tem cura, e quando a gente não consegue curar, conseguimos tratar. E quando não é possível tratar, ainda podemos dar conforto ao paciente e sua família. Eu costumo dizer que eu não escolhi a oncologia, ela me escolheu. Dentro do tripé do tratamento oncológico (quimioterapia, radioterapia e cirurgia), conseguimos ajudar as pessoas com as próprias mãos, nós costumamos falar que “tiramos o câncer com as mãos”.

Hospital Erasto Gaertner: Como é o trabalho diário no HEG?

Dr. Phillipe Abreu: Meu primeiro emprego foi no Hospital Erasto Gaertner e quando vi o resultado da entrevista do concurso da Residência, foi o melhor dia da minha vida! A minha rotina é desafiadora, dentro das residências, a de cirurgia é uma das mais exaustivas, em minha opinião. Na cirurgia geral você precisa estar com tudo pronto às 7h da manhã, e depois se inicia o Centro Cirúrgico ou Ambulatório e trabalhamos até que o último paciente seja atendido, independente do horário. Chegando em casa ainda precisamos estudar as cirurgias do dia seguinte, atualizar os conhecimentos e se preparar para as provas. Algumas vezes por mês também precisamos vir para os plantões nos fins de semana, obrigatórios na residência. É uma rotina cansativa, mas muito gratificante. 

Hospital Erasto Gaertner: Quais os principais avanços percebidos desde que começou a atuar no Hospital?

Dr. Phillipe Abreu: O principal destaque, para mim, são os avanços tecnológicos, principalmente na área de cirurgia minimamente invasiva. Muitos serviços foram atualizados e melhorados com o tempo. Um exemplo é a Emergência, agora tem um espaço físico e o dobro de profissionais. Também destaco os plantões noturnos, que melhoraram muito a qualidade do atendimento prestado ao paciente.

Hospital Erasto Gaertner: Qual o momento mais marcante desde que começou a trabalhar aqui?

Dr. Phillipe Abreu: Difícil escolher somente um. Como acadêmico, um momento marcante foi a primeira vez que acompanhei um diagnóstico de câncer. Eu achava que aquilo seria a pior coisa do mundo e eu lembro bem que o médico responsável teve bastante cuidado em conversar com o paciente e pouco a pouco foi descrevendo a situação. Logo ele apresentou a solução e o paciente percebeu que se tratava de um câncer. Isso me ensinou como levar notícias potencialmente ruins. Já como médico, tem um dia que nunca esquecerei. Um paciente do Serviço de Cabeça e Pescoço chegou com uma parada cardiorrespiratória no Pronto Atendimento. Sem possibilidade de entubar o paciente, precisamos fazer uma traqueostomia de emergência e ele voltou a respirar e o coração voltou a bater novamente. A família ficou muito grata e nos elogiou muito, foi um momento de dificuldade extrema já que eu era recém-formado. Na residência de Cirurgia Oncológica, cada pós-operatório é especial. Lembro bem de um paciente chamado Antonio Leomar. Ele teve um pós-operatório complicado e até hoje quando me encontra no Hospital ele me agradece, traz os filhos para me apresentar. Aprendemos que cada paciente carrega uma história e traz consigo uma família, que deposita todas as expectativas de cura do ente querido em você. 

Hospital Erasto Gaertner: Você atuará como médico durante as Olimpíadas Rio 2016. Conte um pouco sobre como foi o processo seletivo.

Dr. Phillipe Abreu: É um trabalho voluntário mesmo, arcarei com os custos até das passagens e da hospedagem. Em 2012, eu fiquei cinco meses em Miami (EUA), fazendo estágio no Hospital do Trauma. O chefe do Centro de Trauma é um brasileiro, chamado Antônio Marttos, e nós mantivemos contato, publicamos artigos juntos e fizemos o Congresso Brasileiro de Cirurgia em Curitiba (PR). Ele começou a comandar a telemedicina (sistema de videoconferência) da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Então, logo que ele veio para o Brasil me convidou para ser assistente dele e pediu que me inscrevesse como voluntário para que trabalhássemos juntos. Também serei médico voluntário de campo de jogo. Das 9h30 às 14h30, conforme escala, eu vou ficar no box das lutas, no pavilhão seis (como médico de campo de jogo, durante a luta). À tarde e à noite, vou auxiliar no atendimento do Centro de Telemedicina.

Hospital Erasto Gaertner: O que espera dessa experiência?

Dr. Phillipe Abreu: Fui nadador muitos anos da minha vida, cheguei a competir, então estar em um evento como este é um sonho realizado. Ver o espírito de união de atletas do mundo todo em prol do esporte é um grande estímulo para que as pessoas vivam em paz e harmonia. Presenciar o dia a dia dos atletas na Vila Olímpica  será um momento único, recepcionar médicos voluntários estrangeiros será um grande aprendizado. 

Hospital Erasto Gaertner: Como você acha que essa experiência poderá lhe ajudar na carreira como médico e até mesmo no trabalho realizado no HEG?

Dr. Phillipe Abreu: O trabalho voluntário reforça os laços entre os que o executam, afinal, o interesse de nenhum dos envolvidos é financeiro. Promover o espírito olímpico e conviver com médicos do mundo todo proporcionará contatos para projetos futuros tanto em medicina esportiva, de emergência e trauma, quanto em outras especialidades, como a oncologia. O contato pode abrir portas para ações conjuntas com hospitais e profissionais. É a partir dessa união de forças  que podem surgir as grandes inovações para o tratamento de pacientes e a cura de doenças.